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essa demanda. Será necessário que o se- tor produtivo trabalhe junto às institui- ções educacionais, públicas e privadas, para formar pessoas com tais competên- cias. Dificilmente o setor educacional so- zinho saberá como fazer isso, diz ele. NOVO ENSINO MÉDIO Recentemente, o Ministério da Educa- ção anunciou o cronograma de implemen- tação do novo ensino médio, que contempla medidas como a ampliação da carga horária e uma nova estrutura curricular, com itine- rários formativos por meio dos quais os es- tudantes podem se aprofundar em uma ou mais áreas de conhecimento e/ou na for- mação técnica e profissional. Essa imple- mentação ocorrerá de forma gradual, com início em 2022 para o primeiro ano do en- sino médio, em 2023 para o segundo ano e em 2024 para o terceiro. A medida, válida para todas as escolas públicas e particulares do país, tem como objetivo tornar o ensino médio mais atra- ente para os jovens e, consequentemente, reduzir a evasão de estudantes nesse ní- vel de ensino. Como explica Schwartzman, “a esperança é de que esse abandono seja reduzido ao tornar o ensino médio mais acessível e motivador do que os cursos tra- dicionais, e também mais prático, propor- cionando uma perspectiva mais clara de profissionalização”. O maior espaço conferido à profissio- nalização no novo ensino médio também é apontado como uma mudança positiva pelo diretor do SENAI, Rafael Lucchesi. Para ele, essa aproximação contribui para dar uma identidade social a todos os indi- víduos. “O sistema anterior, academicista, era orientado como se todos os alunos do Brasil fossem para a universidade, enquan- to apenas cerca de 20% dos jovens seguem estudando após o ensino médio. Os outros 80% vão para o mundo do trabalho sem ne- nhuma profissão”. Além disso, como sintetiza Sergio Pau- lo Gallindo, presidente da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), “estamos diante da geração imediatista dos millennials . Se eles não identificarem conexão entre a formação educacional e a vida deles, vão desistir e procurar outra coisa”. ENTRAVES Além de reter os estudantes, especialis- tas alertam para outro desafio que precisa ser enfrentado pela educação profissional no Brasil: o preconceito. Segundo Claudia Costin, a discriminação contra a profissio- nalização é algo que vem de muito tempo e da nossa relação com o trabalho não es- tritamente intelectual. “Trata-se de uma visão elitista e desco- nectada do mundo. No surgimento dos an- tigos liceus de artes e ofícios, dizia-se ex- plicitamente que eram para a população pobre, para dotá-la de alguma profissiona- lização. Hoje, esse preconceito se sofisti- cou e o problema ocorre de duas formas: a ideia de que a profissionalização não faria sentido e a de que os cursos técnicos deve- riam ser mais parecidos com o ensino mé- dio regular, pois, como oferecem uma boa aprendizagem, podem servir como prepa- ratórios para a educação superior”. Para Claudia Costin, a solução passa pela valorização dos jovens que querem ter uma carreira técnica ou que pretendem se- guir uma trajetória a partir dos conheci- mentos adquiridos no curso técnico. “Uma alternativa seria fazer aqui algo parecido com o que a Coreia do Sul implementou. Lá, na região que seria o Vale do Silício de- les, existe um ensino médio voltado para a tecnologia de ponta. Quem faz esse ensino técnico e fica três anos na área não precisa fazer o temido vestibular coreano para en- trar nas engenharias correspondentes ao curso técnico frequentado”. Destacar a perspectiva de trabalho e ren- da no curto prazo, criada pelo ensino técni- co, é a aposta de Simon Schwartzman para combater o ainda baixo interesse dos bra- sileiros pela formação técnica. “Muitos não podem esperar 4 ou 5 anos para obter um título superior e só então entrar no mer- cado de trabalho. Além disso, a educação profissional não é um beco sem saída. As pessoas que optarem por uma formação profissional podem continuar se aperfei- çoando, inclusive no ensino superior, se assim desejarem”, pondera Schwartzman. TECNOLOGIA Mesmo sendo uma área na qual os sa- lários não param de crescer, assim como as ofertas de vagas, o setor de Software e TI está diante de uma situação difícil, pois prevê que, em 10 anos, algumas pro- fissões emergentes vão apresentar défici- ts que chegam a 80% entre a demanda e a quantidade de profissionais qualificados disponíveis no mercado. Isso ocorre em um país que enfrenta sua maior crise de desemprego da história, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís- tica (IBGE), com 14,7% da população em idade para trabalhar desempregada. Para o presidente da Brasscom, tanto a implementação do novo ensino médio quanto a abertura de mais cursos técni- cos são medidas essenciais para que esse quadro seja revertido. Contudo, ele alerta para outros fatores que precisam ser revis- tos e/ou trabalhados no país, como a prá- tica de bullying . “A gente tem uma hipótese de que o as- sédio moral – o bullying – nas instituições de ensino, em especial nas escolas de ní- vel médio, faz com que muitos estudantes se desinteressem pela área porque não se enxergam naquele lugar. Essa percepção é reforçada por estatísticas como as das olimpíadas de matemática voltadas para o ensino fundamental. Ali praticamente não existe segregação de competências e todos têm uma certa proficiência muito equiva- lente. Por que no final do ensino médio esse negócio desanda? Precisamos enten- der esses fenômenos psicológicos para dis- solver esse movimento”, avalia Gallindo. O representante do setor de TI cha- ma a atenção, ainda, para a defasagem dos currículos dos cursos técnicos e das graduações e a necessidade de amplia- ção das políticas públicas de acesso à educação superior. A formação de professores, a criação de novos cursos e a revisão dos currícu- los educacionais estão entre as recomenda- ções apontadas no relatório sobre profissões emergentes na era digital. Segundo o documento, a inserção de no- vas disciplinas nos currículos, alinhadas a conceitos como digitalização, novas tec- nologias, economia circular, gestão ágil de projetos, trabalho em equipe e resolução de problemas, pode trazer grandes benefícios sem impactar demais a estrutura educacio- nal existente. “Driblando a rigidez dos currí- culos atuais, disciplinas eletivas e transver- sais focadas em projetos digitais podem ser uma alternativa”, defende o texto. De acordo com especialistas, essas ques- tões estão, de certa forma, contempladas ▲ Para a professora Claudia Costin (FGV-RJ), a educação deve preparar as pessoas para o mercado de trabalho, não só “para a vida, como se esta excluísse o trabalho” 12 13 Revista Indústria Brasileira ▶ julho 2021 Revista Indústria Brasileira ▼ Capa

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