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tanto no novo ensino médio quanto na nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), instrumento que define o conjunto de apren- dizagens essenciais que todos os alunos de- vem desenvolver ao longo das etapas e moda- lidades da educação básica. Omaior entrave, contudo, estaria na educação superior. Na visão do diretor presidente da Asso- ciação Brasileira de Mantenedoras de En- sino Superior (ABMES), Celso Niskier, essa rigidez imposta pela regulação educacional tem atrasado o desenvolvimento e a imple- mentação de novos cursos e metodologias formativas em diversas áreas, especialmen- te naquelas que demandam maior atuali- zação e inovação. “As metas do Plano Nacional de Educa- ção (PNE) estão cada vez mais distantes de serem alcançadas, existe um descompas- so entre a demanda e a oferta por profis- sionais e a educação superior segue presa a amarras regulatórias incompatíveis com o atual contexto socioeconômico e com as necessidades do mercado de trabalho. Hoje, uma instituição de educação superior que investir em um currículo moderno e inova- dor pode ser penalizada pelos órgãos regu- ladores ou pelo resultado dos seus estudan- tes no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), fortemente pautado por diretrizes e conteúdos agarrados ao século passado”, diz Niskier. Ele explica que a expectativa do setor particular de educação superior, respon- sável por 75% das matrículas nesse nível educacional no país, é de que o Ministé- rio da Educação flexibilize alguns pontos e conceda maior autonomia às instituições. Assim sendo, elas poderão, inclusive, tra- balhar de acordo com a realidade dos lo- cais onde estão inseridas e não dentro de padrões estabelecidos para um país tão diverso como o Brasil. “De forma alguma somos contra a regulação. O que defen- demos é que ela passe a ser uma aliada no desenvolvimento de uma educação que dialogue com as necessidades e especifi- cidades deste século 21”. Nessa mesma linha, Claudia Costin ar- gumenta que o erro não é a questão regu- latória em si, mas a forma como ela tem sido conduzida. “Não é um erro estabele- cer padrões; eles existem em todos os paí- ses com bons sistemas educacionais. O que precisamos é de padrões mais inteligentes e flexíveis. Tem de haver algum consenso sobre o que um profissional de determi- nada área deve saber, mas há que existir também um espaço aberto para inovações, de como conectar os saberes que propor- ciono no meu curso”. EXPECTATIVAS Apesar dos desafios, tanto o setor de tecnologia quanto especialistas em educa- ção acreditam na capacidade do Brasil de formar e requalificar os profissionais ne- cessários para um mercado transformado digitalmente, ainda que isso não ocorra na velocidade desejada. Esse otimismo pas- sa por aspectos que vão desde o desem- penho dos ensinos médio e profissiona- lizante nos últimos anos até a percepção de que gestores públicos e professores es- tão comprometidos com a transformação que precisa ser feita. Dados do último Censo da Educação Bá- sica, realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio- nais Anísio Teixeira (Inep), mostram que, em 2020, foram registradas 7,6 milhões de matrículas no ensino médio, número 1,1% superior ao verificado em 2019. Esse cres- cimento, ainda que discreto, interrompe a tendência de queda observada entre 2016 e 2019, quando houve redução de 8,2%. Ain- da é incerto, contudo, o efeito da pandemia sobre o comportamento dessas matrículas nos próximos anos. Já o presidente da Brasscom conta que tem tido interlocuções frequentes com o Mi- nistério da Educação no sentido de reforçar as competências que precisam ser desenvol- vidas nos estudantes. A instituição também se comprometeu a contribuir com a revisão das grades curriculares a cada três anos. Em outra frente, a Brasscom tem dialogado com reitores e docentes dos Institutos Federais de Educação (IFEs). “Estou muito satisfeito com a reação dos professores em relação a essa demanda. Eles estão entendendo o que precisa ser feito e o quanto essa formação implica a empregabilidade dos alunos de- les”, diz Gallindo. Otimista, Claudia Costin defende que, ao contrário do que alguns possam pensar, o ensino técnico vai ganhar força no Brasil. “Há uma demanda grande para profissões que organizam essa automação e digitali- zação do mundo que está em curso. Além disso, temos tido uma evolução positiva. Ao menos antes da pandemia, vínhamos, a cada ano, tendo mais concluintes no ensi- no médio. A situação temmelhorado, ainda que não o suficiente, especialmente para o mundo da 4ª Revolução Industrial”, aposta a especialista. ■ ▲ “Se eles [ millennials ] não identificarem conexão entre a formação educacional e a vida, vão desistir e procurar outra coisa”, pensa Sergio Paulo Gallindo (Brasscom) Fonte: Profissões Emergentes na Era Digital – Oportunidades e desafios na qualificação profissional para uma recuperação verde (SENAI/UFRGS/GIZ) O DÉFICIT EM SETORES MAIS LIGADOS À INDÚSTRIA Transformação e Serviços OFERTA DEMANDA 106.000 401.000 EM 2 ANOS OFERTA DEMANDA 250.400 563.000 EM 5 ANOS OFERTA DEMANDA 490.700 767.600 EM 10 ANOS Software e TI OFERTA DEMANDA 109.300 140.300 EM 2 ANOS OFERTA DEMANDA 273.300 421.000 EM 5 ANOS OFERTA DEMANDA 545.000 779.000 EM 10 ANOS 14 15 Revista Indústria Brasileira ▶ julho 2021 Revista Indústria Brasileira ▼ Capa

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