RIB_julho

A virada de chave entre postos de traba- lho fechados e o surgimento de novas vagas está diretamente relacionada ao novo per- fil do profissional buscado pelo mercado de trabalho e às novas (e emergentes) pro- fissões fundamentadas na digitalização de todos os setores da economia. Além das profissões que surgiram nes- se novo contexto, muitas outras que já exis- tiam incorporaram termos – como “digi- tal” ou “dados” – aos seus nomes, segundo o estudo Profissões Emergentes na Era Digital: Oportunidades e desafios na qualificação profis- sional para uma recuperação verde , realizado pela Agência Alemã de Cooperação Interna- cional (GIZ – Deutsche Gesellschaft für Interna- tionale Zusammenarbeit GmbH ) em parceria com o SENAI e com o Núcleo de Engenharia Organizacional (NEO) da Universidade Fede- ral do Rio Grande do Sul (UFRGS). O relatório identifica tendências e pro- fissões emergentes no curto (2 anos), mé- dio (5 anos) e longo (10 anos) prazos em quatro grandes setores impactados pela di- gitalização: Software e Tecnologia da Infor- mação (TI); Indústria de Transformação e Serviços Produtivos; Agricultura; e Saúde. Entre as ocupações de destaque estão a de programador, analista de segurança ciber- nética, expert em digitalização industrial, empreendedor digital, engenheiro agrôno- mo digital e engenheiro de dados da saúde. Ao todo, foram identificadas 12 profis- sões emergentes no setor de Software e TI, 19 no de Transformação e Serviços, 8 no de Agricultura e 14 no setor de Saúde. Analisan- do a demanda em relação à formação pro- fissional, o estudo constatou que as maio- res lacunas percentuais estão na Agricultura, enquanto as maiores demandas nominais por novos trabalhadores digitais estão no setor de Transformação e Serviços. A formação dessa mão de obra, contu- do, ainda é um desafio. Na área de TI, por exemplo, a estimativa é de que, em 10 anos, sejam necessários 83 mil especialistas em segurança digital, mas a previsão é de que apenas 15,2 mil profissionais nessa área sejam formados até lá. Já na indústria de transformação e serviços produtivos, a ex- pectativa para os próximos dois anos é de uma demanda de 401 mil profissionais ante os 106 mil que deverão estar disponíveis. De acordo com o diretor do SENAI, a so- lução para essas lacunas passa pela corre- ção do nosso sistema educacional. “Temos uma escola do século 20 e precisamos ter uma escola do século 21. Há todo um paco- te de novas tecnologias que redefine o mun- do do trabalho, e nossa matriz educacio- nal precisa dialogar com ele”, diz Lucchesi. PROFISSIONALIZAÇÃO No Brasil, ainda é muito pequeno o contingente de jovens que fazem educa- ção técnico-profissional: cerca de 11%. Para se ter uma ideia, entre os países que integram a OCDE, a média é de 41%, sen- do que algumas nações atingem índices muito maiores, como a Finlândia (72%) e a Áustria (75%). O índice brasileiro é baixo, mesmo quando comparado com países vizinhos, como o Chile (16%) e a Colômbia (27%). Para a professora da FGV-RJ e diretora do Centro de Excelência e Inovação em Po- líticas Educacionais (CEIPE-FGV), Claudia Costin, “é preocupante quando a educação acha que seu objetivo não é formar para o mundo do trabalho, mas formar para a vida, como se esta excluísse o trabalho”. Ela ressalta que indivíduos que não são formados para o trabalho não são emancipados e que a educação precisa es- tar atenta às constantes transformações do mercado. “Quando um país se recupe- ra de crises que geraram desemprego, não significa que as pessoas que estavam em- pregadas voltam para suas antigas funções, porque muitas delas foram substituídas por inteligência artificial ou automação. É preciso preparar a juventude para as novas profissões”. Para o sociólogo e membro da Acade- mia Brasileira de Ciências (ABC), Simon Schwartzman, a estrutura educacional do Brasil não está preparada para atender a Condutor de processos robotizados Engenheiro de exoesqueletos de propulsão Especialista em serviços Expert em digitalização industrial Gestor de economia circular Gestor de trends innovation Mecânico especialista em telemetria Operador digital Profissional de eletromobilidade Profissional de manufatura aditiva Profissional de planejamento logístico Programador de unidades eletrônicas Técnico em eletromecânica Técnico em informática veicular PROFISSÕES EMERGENTES NA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO E SERVIÇOS PRODUTIVOS Fonte: Profissões Emergentes na Era Digital – Oportunidades e desafios na qualificação profissional para uma recuperação verde (SENAI/UFRGS/GIZ) ▲ “Será necessário requalificar muita gente que está no meio do percurso da sua vida profissional”, diz Rafael Lucchesi, diretor-geral do SENAI 10 11 Revista Indústria Brasileira ▶ julho 2021 Revista Indústria Brasileira ▼ Capa

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