Revista Indústria Brasileira - Fevereiro 2022

Ensino profissional: enfim, boas notícias por CLÁUDIO DE MOURA CASTRO O ciclo profissionalizante do ensino mé- dio pode ser oferecido por outras institui- ções. As últimas alterações na lei facilita- ram isso. Aleluia! Desde sempre, houve o mundo das mãos e o mundo da cabeça. São antípodas. Mas a tecnologia passou a exigir a aproximação da cabeça pensante às mãos que agem. Nasce assim o ensino profissional. Há décadas, o Brasil embarcou nes- ses cursos por meio das escolas técnicas federais, de alto custo e excelente forma- ção, seja no lado acadêmico, seja no pro- fissional. No entanto, ao longo do tempo, o modelo patinou. Por serem academica- mente sólidas, as escolas técnicas atraí- ram alunos das elites interessados na ex- celente preparação para os vestibulares mais competitivos. Certa vez, visitando uma escola técnica, tive uma moça como guia. Perguntei que curso fazia: Máquinas e Motores. E o que faria após a formatura? Direito. Na década de 1990, o Conselho Nacional da Educação (CNE) decidiu que as discipli- nas profissionalizantes não podiam ser con- tadas na carga horária mínima. Os técnicos tinham que cursar mais 1.000 horas para ob- ter o seu diploma. O menino rico entra no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) com 3.000 horas de ensino médio. O mais modesto, interessado no ensino profissio- nalizante, tem 4.000 horas. Como assessor do ministro Paulo Rena- to, propus separar as duas vertentes. Curso acadêmico de um lado e curso profissional de outro. Assim, quem estudava para o ves- tibular não iria matricular-se, também, no ramo técnico, liberando vagas para quem queria realmente se profissionalizar. Na prática, o sistema se ajustou, ofere- cendo o ensino profissionalizante como con- tinuação pós-secundária do ensino médio, mas, em meados da década de 2010, o Mi- nistério da Educação mandou rejuntar os dois ramos. Apesar disso, nem nas escolas federais vingou a exumação do velho mode- lo. Ainda assim, o progresso foi lento. Hoje, os países mais prósperos têm de 30% a 70% dos jovens em escolas desse tipo. No Bra- sil, amargamos 10%. A recente reforma do ensino médio cria uma trajetória técnica como alternati- va aos ciclos acadêmicos. Assim se faz no mundo inteiro. Pelas novas regras, as dis- ciplinas profissionalizantes contam na car- ga horária. Viva! Tudo pronto para a arrancada do téc- nico? Nem tanto. Faltava resolver um pro- blema: quem vai oferecer o ciclo profissio- nalizante? Pela sua conformação cultural, às secretarias de Educação falta afinidade com esses misteres. Fecha o ciclo de consertos a emenda le- gal que permite cursar o profissionalizante em outras instituições especializadas, desde que não tenham objetivo de lucro. O Sistema S e outros podem virar parceiros. Agora, sim, podemos dar a partida para eliminar uma brecha histórica do nosso ensino. ■ ▲ consultor da EDUQUALIS. 46 Revista Indústria Brasileira ▶ fevereiro 2022 A opinião de articulistas convidadas e convidados não necessariamente reflete a da CNI. ▼ Outra visão

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