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reservatórios, conversando com a indústria para tentar modular a demanda e aumentan- do a tarifa para reduzir o consumo”, resume. Pires considera que a probabilidade de um racionamento como o de 2001 é baixa, mas existe, caso o sistema não consiga aten- der o pico da demanda de energia. “O nível dos reservatórios está caindo muito rápido e fala-se até em redução para 10%. O siste- ma elétrico brasileiro nunca operou abai- xo de 15%”, afirma. Segundo ele, o desafio é construir uma matriz elétrica mais diver- sificada, equilibrada e confiável. Na avaliação de Paulo Pedrosa, presiden- te da Associação Brasileira de Grandes Con- sumidores Industriais de Energia e Consu- midores Livres (Abrace), o Brasil vive hoje ummomento grave do ponto de vista dos re- cursos hídricos, mas há instrumentos para lidar com isso. “O importante não é olhar a crise conjuntural, mas pensar nas questões estruturais que nos trouxeram até aqui e no que podemos fazer, superada a crise, para ter energia competitiva no Brasil”, pondera. Segundo ele, o preço da energia no Brasil e a gestão do setor se apoiam em ummode- lo computacional ultrapassado. “O modelo do setor elétrico embute muitas ineficiên- cias, subsídios e custos de políticas públi- cas que integram o custo da energia”. Mais da metade do que “nós pagamos nas contas corresponde a esse universo: encargos, ta- xas e impostos. Isso é muito ruim para a in- dústria nacional”, afirma Pedrosa. Do ponto de vista econômico, a atual si- tuação já tem efeitos negativos, avalia Laris- sa Rodrigues, gerente de projetos e produtos do Instituto Escolhas e doutora em energia pela Universidade de São Paulo (USP). “No momento de recuperação econômica para sair da crise da pandemia, a indústria já re- cebeu uma indicação negativa do governo de que, se as empresas retomarem suas ati- vidades e crescerem, vai faltar energia. Isso, para um planejamento de empresa, é muito negativo: você não vai fazer grandes investi- mentos sem segurança energética”, diz ela. A capacidade de geração do parque elé- trico nacional cresceu 43% entre 2011 e 2020, acima do aumento de 19% no consu- mo de energia no mesmo período, segundo dados do Grupo de Estudos do Setor Elétri- co da Universidade Federal do Rio de Janei- ro (Gesel/UFRJ). O investimento, porém, foi abaixo do necessário, segundo Larissa. “Por mais que a matriz hoje seja mais diversifica- da do que em 2000, as outras fontes renová- veis crescerammuito pouco. Isso é um pro- blema”, avalia. Para ela, é preciso incluir os efeitos das mudanças climáticas no modelo de definição de preços. Edmar Almeida, especialista em gás na- tural e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é a favor de mudar a regulação do setor. Atualmente, diz ele, a se- gurança de abastecimento e o preço da ener- gia dependem basicamente de um modelo centralizado de contratação e operação que estima a capacidade de geração das diferen- tes fontes para todo o período dos contratos. “Se a empresa vende energia e não entrega, seja por problemas climáticos ou por ques- tões técnicas, o modelo continua enxergan- do essa oferta, ou seja, os preços não refle- tem a escassez real da energia”, afirma. O ideal, diz, seria evoluir para um sistema de mercado livre de energia, em que os preços refletissem a escassez real. Diante do atual cenário, Roberto Wag- ner Pereira, especialista em Política e In- dústria da Confederação Nacional da Indús- tria (C​ NI), explica que a proposta do setor é deslocar o consumo em horário de ponta em troca de uma remuneração. “Isso não exclui que os demais setores também con- tribuam para a economia de energia. É um esforço geral da sociedade”, argumenta. Se- gundo ele, é preciso repensar o modelo atu- al, que não prevê a construção de grandes reservatórios, como no passado. Fátima Giovanna Coviello Ferreira, di- retora de Economia e Estatísticas da Asso- ciação Brasileira da Indústria Química (Abi- quim), diz que “a crise vai atingir em cheio a indústria química naquele que é o melhor trimestre do ano [o terceiro], e nummomen- to em que a demanda cresce”. Segundo ela, é necessária uma mudança estrutural no se- tor de energia, com redução dos encargos e dos custos que recaem sobre o consumo. No setor produtivo, afirma, as empresas estão adotando medidas para otimizar processos e melhorar eficiência, autoprodução e uso de combustíveis menos poluentes. Na Termomecânica, fabricante de ligas de cobre e alumínio, o plano para enfren- tar a crise é acionar fornos a gás caso o cus- to ou o consumo de energia ultrapassem o estimado. “Entendemos que o governo ain- da tem algumas ações para evitar um possí- vel racionamento e eventuais apagões”, diz Luiz Henrique Caveagna, diretor-geral da empresa. “Temos o recurso de geração pró- pria e ele será utilizado no momento opor- tuno”, diz Caveagna.■ ◀ Larissa Rodrigues (Instituto Escolhas) afirma que o Brasil investiu menos que o necessário na diversificação da matriz energética entre 2011 e 2020 F: Anna Carolina Negri Evolução histórica no dia 30/4 – 2011 a 2021 2014 38,02 2015 33,58 2017 41,86 2018 43,98 2019 45,12 2016 57,70 2020 54,74 2021 34,68 Nível dos reservatórios do subsistema Sudeste/ Centro-Oeste* * EAR max %: Percentual de energia armazenada nos reservatórios Fonte: Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) Medidas anunciadas pelo governo Acionamento de todo o parque termelétrico Fonte: Ministério de Minas e Energia Realização de campanhas de racionalização Manutenção da importação de energia Antecipação da implantação de usinas e linhas de transmissão Elevação da tarifa da bandeira vermelha 1 em 52% Realização de leilões de reserva de energia Flexibilização das vazões da Bacia do Paraná 32 33 Revista Indústria Brasileira ▶ julho 2021 Revista Indústria Brasileira ▼ Competitividade

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