Revista Indústria Brasileira

Do ponto de vista da nova fonte de riqueza, por que é importante regulamentar? Hoje, nós temos empresas que emitemmenos do que poderiam emitir e não conseguem mo- netizar essa redução. Nós temos florestas que sequestram carbono da atmosfera e não conseguimos monetizar esse instrumento de redução. Regulamentar significa ter um inventário de emissões e ativos e criar um mecanismo que dialogue commercados cer- tificados. Além disso, estabelecer metas por setores econômicos. Na indústria e no se- tor energético, que correspondem a 70% das emissões, significa criar ummecanismo de cap and trade , ou seja, quem emite menos pode vender esse crédito para quem emite mais. Você cria um arcabouço que permite monetizar os ativos e que demonstra o com- promisso do Brasil. Como isso se insere na agenda internacio- nal rumo a uma economia sustentável? Nós valorizamos nossos ativos florestais e com- batemos o discurso de que a floresta só tem valor quando é derrubada. É um mecanis- mo em que a floresta gera riqueza estando em pé e essa riqueza pode ser revertida para comunidades tradicionais. O Brasil preci- sa ter metas de redução de desmatamento. Criando ummecanismo para monetizar nos- sos ativos florestais, estamos estimulando a preservação da floresta. Essas são as princi- pais características. Além disso, como temos agro e geração de energia de baixo carbono, poderemos utilizar os créditos gerados para negociar emmercados consolidados, como o europeu e o californiano. Olhando para o Amazonas, como o estado pode ser um exemplo no caminho para a economia de baixo carbono? O Brasil já pre- serva mais que o mundo. Nós já temos uma reserva legal de 80%, enquanto outros bio- mas têm 20%. Já preservamos muito, mas não conseguimos transformar esses ati- vos em riqueza a ser revertida para popu- lações tradicionais, ribeirinhas e indígenas, que são responsáveis pela preservação. Na Amazônia, o principal é definir ummecanis- mo de geração de riqueza a partir da flores- ta em pé que confronte a tese de que a flo- resta precisa ser derrubada para gerar valor. Nesse contexto, qual é o papel da bioeco- nomia? Fundamental. Nós temos discutido com o Ministério da Economia a retomada da modelagem do centro de biotecnologia da Amazônia. Precisamos transformar o poten- cial de riqueza da floresta em riqueza efeti- va. Para isso, é preciso investimento em pes- quisa aplicada. Não tem nada que você tire da floresta e coloque para vender no merca- do em escala sem um processo de pesqui- sa aplicada e industrialização. A bioecono- mia e a bioindústria são fundamentais para gerar riqueza e dinheiro para a população. Você citou dois pilares: regulamentação e conservação da floresta, mas qual é a im- portância da transição energética e da eco- nomia circular? A questão energética tem que partir da premissa de que o Brasil já tem uma geração de energia de baixo car- bono se comparado com o resto do mundo. Precisamos fortalecer nossos modelos de fontes renováveis. Nós temos muita dificul- dade, por questões ambientais, de avançar em grandes hidrelétricas. Precisamos valo- rizar investimentos na área eólica, de bio- massa e solar. Isso vai garantir, a longo pra- zo, essa migração do que ainda existe em energia termelétrica. A economia circular é a economia do futuro e precisa estar no centro das discussões. Como essas medidas podem ajudar a reto- mada da economia? Sem essas medidas, nós não teremos uma recuperação sustentável. O Brasil vive uma grave crise. Já são 14,8 mi- lhões de desempregados, 19 milhões de bra- sileiros com fome, inflação chegando a dois dígitos, 600 mil mortos durante a pandemia e 800 mil empresas fechadas. Sem uma nova modelagem de desenvolvimento, vamos ter o crescimento de quem sai da inércia, mas não será sustentável. ■ 23 Revista Indústria Brasileira

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