Revista Indústria Brasileira

território, o número de pessoas do Brasil, a capacidade de consumo, a necessidade de geração de emprego e o valor para que a gen- te consiga movimentar o país, comparando com o restante do mundo, não faz sentido estarmos em 57º lugar”, avalia. O empresá- rio adverte que, caso não haja mudanças, o resultado brasileiro pode piorar quando na- ções que investiram em inovação se recupe- rarem dos impactos da pandemia. O investimento em Pesquisa e Desenvol- vimento (P&D) nesse período é apontado por Gianna Sagazio como o fator que mais distingue os países no resultado do IGI de 2021. Os dez países mais bem colocados no ranking investiram, em média, 3% do seu PIB (Produto Interno Bruto) em P&D no ano de 2019, e estão investindo ainda mais por causa da Covid-19, já que ficou bastante clara a importância da inovação para que a gente possa enfrentar essa cri- se econômica, social e de saúde pública e voltar a crescer. Enquanto isso o Brasil in- vestiu, em 2018, último dado público dispo- nível, apenas 1,14%”, diz a diretora da CNI. De fato, um estudo divulgado pelo Insti- tuto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2020 apontou que o investimento bra- sileiro em P&D voltado para o combate ao coronavírus era de 1,8% do PIB, significati- vamente menor que o de nações mais de- senvolvidas. No mesmo período, os Estados Unidos investiram 4,1% de seu orçamento anual em conhecimento e inovação para saúde pública; a Alemanha, 6,3%; o Reino Unido, 10,8%; e o Canadá, 11,8%. Quanto ao crescimento do PIB, de acordo com levantamento da Austin Rating , o Brasil ocupava a 19ª posição entre 50 países no pri- meiro trimestre de 2021, mas, devido à re- tração de 0,1% no segundo trimestre, caiu para o 38º lugar. INVESTIMENTO COMO PRIORIDADE Não é só em tempos de crise que os in- vestimentos em ciência, tecnologia e inova- ção são responsáveis por alavancar o cresci- mento da economia. “Existe uma correlação direta entre o país ser inovador, ser desen- volvido e conquistar mais mercado e se inse- rir nas cadeias globais de valor, porque esse é o grande vetor do desenvolvimento e nos- sas políticas não estão centradas nisso”, co- menta Gianna Sagazio. A diretora de Inovação da CNI destaca que o Fundo Nacional de Desenvolvimento Cien- tífico e Tecnológico (FNDCT), principal fon- te de recursos para o setor no país, tem sido contingenciado nos últimos anos. Em 2020, apenas 18% foram alocados e, neste ano, o número pode ser ainda menor. O fundo tem a finalidade de repassar recursos para uni- versidades, redes de laboratórios públicos e projetos de inovação. “Ao contrário do que ocorre em países no topo do ranking, que consideram inovação uma prioridade con- creta, como política de Estado, aqui, ciência, tecnologia e inovação são tratadas como gas- to, não como investimento, e não há conti- nuidade entre governos”, acrescenta Gianna. Para Laércio Cosentino, a utilização de recursos públicos para ciência e tecnologia também tende a alavancar a aplicação de di- nheiro privado no setor. “O investimento não deve ser só em empresas e pesquisa, mas na infraestrutura geral – educação, atração de talentos, treinamento de pessoas, geração de oportunidades e desenvolvimento de tec- nologia –, para com isso gerar produtos que de fato possam viabilizar o crescimento do PIB e a distribuição de renda. LONGO PRAZO Os dois gestores avaliam que o planeja- mento a longo prazo é outra medida para que o Brasil alcance posições maiores na economia mundial . “É preciso termos um plano de poder. O que nós queremos ser daqui a cinco, dez, 20 anos? Porque não se constrói uma infraestrutura em menos de cinco anos, e tem que mexer em infraes- trutura, fazer as reformas que estamos es- perando”, ressalta Laércio. “Por aqui a gen- te sempre adota remédios para resolver problemas imediatos, mas faltam atitu- des para resolver problemas estruturais”, diz o executivo. Para Gianna, é preciso continuar mos- trando aos gestores públicos exemplos de que a aposta em inovação é a fórmula que dá certo. “Os países desenvolvidos e inovadores têm visão de longo prazo, têmmetas, perse- guem essas metas. Existe uma articulação muito forte entre setor empresarial, gover- no e academia, e há investimentos em ino- vação e políticas públicas robustas de lon- go prazo, conclui. ■ ▶ Laércio Cosentino (Totvs e MEI-CNI) adverte que o resultado do Brasil no IGI pode piorar quando nações que investiram em inovação se recuperarem dos impactos da pandemia ◀ “É preocupante estarmos nessa posição sendo uma das maiores economias do mundo. Significa que o país não fez seu dever de casa”, diz Gianna Sagazio (CNI) 1º Suíça 2º Suécia 3º Estados Unido 4º Reino Unido 5º República da Coreia 6º Holanda 7º Finlândia 8º Cingapura 9º Dinamarca 10º Alemanha 57º Brasil Índice Global de Inovação (IGI) 2021 20 21 Revista Indústria Brasileira ▶ setembro 2021 Revista Indústria Brasileira ▼ Capa

RkJQdWJsaXNoZXIy MjE3OTE0