Revista Indústria Brasileira

ele, inovar é simplesmente a habilidade de transformar algo já existente em um recur- so que gere riqueza. Numa visão mais aplicada, o superin- tendente de Inovação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Jeffer- son Gomes, considera que as grandes ino- vações que surgiram e continuam surgindo no mundo são resultado da luta do ser hu- mano contra três problemas: a fome, as pes- tes [doenças] e a falta de segurança. A partir daí nasceram a biotecnologia, a inteligência artificial, a bionanotecnologia e muitas ou- tras inovações relacionadas às necessidades da sociedade atual, que naturalmente exige mais mudanças no mundo. “As pessoas vivem até os 100 anos com mais facilidade. Antes elas viviam duas gera- ções; hoje podemos viver cinco gerações di- ferentes e com comportamentos distintos de consumo provocados pela variação etária”, destaca Gomes, que é engenheiro, professor do Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA) e tem pós-doutorado na área de manufatura. Segundo ele, o setor mais avançado no Brasil, quando falamos de indústria 4.0 ou manufatura avançada, é o automotivo. Isso, entretanto, não se deve apenas ao fato de as fábricas utilizarem máquinas modernas, mas sim a todo o processo de produção e al- cance das pessoas. “A indústria 4.0 congrega a relação do consumidor, e o setor automotivo, apesar de estar em um profundo questionamento, con- segue entender, em tempo real, as variantes do mercado para fazer uma produção custo- mizada levando em conta a diversidade”, diz. TECNOLOGIAS DO FUTURO Especialistas acreditam que, nos pró- ximos anos, inteligência artificial, Big Data e 5G impulsionarão, de vez, a Inter- net das Coisas, seja em nossos lares, em hospitais ou em cidades inteligentes. En- tretanto, com isso, surgem outras preo- cupações, como a necessidade de regula- mentar globalmente a proteção de dados e promover tecnologias mais sustentá- veis para o planeta. Em meados de agosto deste ano, a fa- bricante brasileira de aeronaves Embraer anunciou que pretende ser carbono neutra até 2040. Para alcançar essa meta, desenvol- verá uma ampla gama de produtos, serviços e tecnologias sustentáveis disruptivas, como eletrificação, Combustível Sustentável para a Aviação (SAF) e outras energias alterna- tivas inovadoras. “Estamos intensificando nossos esforços para minimizar nossa pegada de carbono ao permanecermos dedicados a soluções inova- doras que tenham um impacto mais amplo para nossos clientes, as comunidades locais e nossas aeronaves”, anunciou o presidente e CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto. Casos como o da Embraer, tida como uma das empresas mais tecnológicas do país, no entanto, ainda são minoria – apesar de os empresários brasileiros reconhecerem a im- portância de investir em inovação. Pesqui- sa divulgada em julho de 2020 pela CNI re- velou que 83% das indústrias acreditam que precisarão de mais inovação para sobrevi- ver após a pandemia. Além de aumentar a competitividade, a inovação gera riquezas para o país. Contudo, nos últimos dez anos, o Brasil patinou en- tre a 47ª posição e a 70ª no ranking do Índi- ce Global de Inovação (IGI), colocação que não condiz com o fato de ser a 12ª maior economia mundial (leia mais na página 18). Entre os caminhos apontados para tor- nar o Brasil mais inovador, está o fortale- cimento da qualificação profissional com foco nas novas tecnologias. “Um dos maio- res desafios para que tecnologias disrupti- vas – como inteligência artificial, Big Data e machine learning – tornem-se dominantes nos diversos setores da economia é a dis- ponibilidade de recursos humanos qualifi- cados para conceber e operar essas novas ferramentas”, destaca o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade. Ampliar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento é urgente, na opinião de Thomas Mason, diretor do Laboratório Na- cional Los Alamos, uma das maiores insti- tuições de pesquisa do mundo, vinculada à rede de laboratórios nacionais do Departa- mento de Energia do governo norte-ameri- cano. “Criar conhecimento é fundamental para processos de construção de tecnolo- gias. Isso permite a descoberta de novas estratégias e cenários que podem ser re- plicados pelo mundo”, disse Mason na úl- tima reunião da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), em agosto. INOVAÇÃO EM SALA DE AULA Sempre vale destacar que inovar não é, nem de longe, uma aptidão exclusiva de mentes brilhantes. Ao contrário do tal “mo- mento Eureka” – termo que teria sido cria- do pelo cientista grego Arquimedes ao fazer uma grande descoberta, batizada de Princí- pio de Arquimedes ou empuxo –, a inovação depende de processos bem definidos. Estes dependem de observação, muita pesquisa, questionamentos e, principalmente, liber- dade de sugerir ideias sem preconceitos. Essa foi a fórmula utilizada em 2018 por estudantes do Serviço Social da Indústria (SESI) Canaã, em Goiânia, para desenvol- ver o que eles chamaram de “chiliclete”. Ao participar do Torneio SESI de Robótica , os jo- vens, que tinham entre 14 e 15 anos, foram desafiados a pensar em como resolver ques- tões relacionadas a uma viagem ao espaço. Em suas pesquisas, eles descobriram que um dos efeitos da falta de gravidade é a perda de sensibilidade do nariz, o que reduz drasticamente o olfato e o paladar. A inovação surgiu, então, de algo que está ◀ Equipe criadora do chiliclete na Agência Espacial Brasileira ▼ “Nossa inovação não foi tecnológica; foi metodológica”, explica Daniel Rodrigues, diretor da primeira consultoria em línguas do Brasil 12 13 Revista Indústria Brasileira ▶ setembro 2021 Revista Indústria Brasileira ▼ Capa

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