Revista Indústria Brasileira

Um defensor incansável da indústria brasileira DIRETOR DA CNI HÁ MAIS DE UMA DÉCADA, ESPECIALISTA EM ECONOMIA, ENGENHARIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS, CARLOS ABIJAODI DEIXA UM GRANDE LEGADO NAS ÁREAS DE COMÉRCIO EXTERIOR E POLÍTICA INDUSTRIAL Por José Edward Lima e Adriana Nicacio A indústria brasileira perdeu um dos mais brilhantes e aguerridos batalhadores pela inserção do Brasil na economia global. Carlos Eduardo Abijaodi se foi no dia 19 de abril, aos 75 anos de idade, depois de lutar por mais de um mês contra a Covid-19. Mineiro de Belo Horizonte, ele era o segundo entre cinco irmãos, filhos de imi- grantes libaneses. Graduado em engenha- ria civil pela UFMG, era também especialis- ta em engenharia econômica e em relações internacionais – este último pelo Instituto Internacional de Treinamento de Rouen, na França. Trabalhava havia mais de 20 anos no Sistema Indústria, primeiro como supe- rintendente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e, na últi- ma década, como diretor da Confederação Nacional da Indústria (CNI), onde atuou nas áreas de desenvolvimento industrial, eco- nomia e comércio exterior. Como engenheiro civil, Abijaodi foi, en- tre outros, diretor internacional da Cons- trutora Andrade Gutierrez, onde atuou na prospecção de novos negócios na África e no Oriente Médio, nas décadas de 1970 e 1980. Como bem lembrou o jornalista Daniel Ri- ttner, em um perfil publicado no jornal Va- lor Econômico , gostava de contar suas “aven- turas” pelo continente africano, incluindo o fato de ter sobrevivido a um acidente aéreo em uma das muitas viagens até lá. “A gente levava tudo para a África, do alimento às máquinas. E fomos aprendendo aos poucos com eles. Eu me lembro que, certa vez, chegamos e fizemos um refeitó- rio grande, mas os trabalhadores locais não se sentiam à vontade para comer naque- la estrutura. Então, descobri que eles que- riam almoçar todos juntos, em uma roda, com o alimento em um panelão. Assim, a gente sentava no meio do canteiro de obras e todo mundo comia junto”, contava, sem- pre com brilho nos olhos e abrindo o sor- riso largo que lhe era peculiar. Na CNI, Abijaodi colocou a política de comércio exterior e a necessidade de inter- nacionalização do país no centro dos deba- tes da indústria. Teve o mérito e a coragem, por exemplo, de levantar novamente o de- bate sobre o até então paralisado acordo Mercosul - União Europeia, atuando junto ao setor empresarial e ao governo em prol de sua implementação. “Ele apoiou forte- mente o estreitamento das relações entre União Europeia e Brasil e trabalhou ardua- mente a favor do Acordo”, afirmou Markus Beyer, diretor geral do Business Europe – que reúne congêneres da CNI nos países europeus –, em uma das dezenas de mani- festações de pesar por sua morte. EM DEFESA DA INDÚSTRIA E DO PAÍS Habilidoso negociador, contribuiu tam- bém, com sua insistência, para a reativa- ção do debate sobre abertura comercial e livre comércio dentro da indústria. Foi, ainda, presença ativa nos debates sobre o acordo de Facilitação de Comércio da OMC e na criação do Portal Único do Comércio 44 ▼ Memória

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