Revista Indústria Brasileira - Fevereiro 2022

Pé na estrada? BRASIL APOIA-SE NO MODAL RODOVIÁRIO, MAS INVESTIMENTOS ESTÃO FREADOS, CORRESPONDENDO A MENOS DA METADE DO NECESSÁRIO PARA MANTER AS RODOVIAS O Brasil concentra nas rodovias quase 70% de tudo o que é transportado pelo país. Se excluirmos o minério de ferro – que tem como principal modal de escoamento a ma- lha ferroviária –, o percentual de dependên- cia das estradas federais, estaduais e muni- cipais aumentaria para 87%. Diante desses números, o natural seria imaginar que cui- damos bem de nossas rodovias, mas a rea- lidade é bem distinta. Um estudo inédito feito pela Confedera- ção Nacional da Indústria (CNI), intitulado “Investimentos públicos e as rodovias federais no Brasil: evolução e perspectivas” , mostra um déficit crescente de recursos para in- vestimento nos cerca de 50 mil quilômetros de rodovias federais sob administração do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Segundo o estudo, nos anos de 2019 e 2020, eram necessários investimentos de R$ 11,1 bilhões e R$ 12,2 bilhões, respecti- vamente, para obras de manutenção, dupli- cação e construção de novos trechos, mas o executado, em média, ficou em apenas R$ 7,4 bilhões. Para 2022, o cenário torna-se ainda mais preocupante: diante de uma de- manda de recursos de R$ 12,3 bilhões, o or- çamento federal previsto para investimen- to em rodovias é de apenas R$ 4,2 bilhões, 34% do valor necessário. Esses recursos referem-se aos 50 mil quilômetros de rodovias federais não concedidas, que ainda estão sob a ad- ministração do DNIT e cujos custos são f inanciados exclusivamente com recursos públicos. Existem, ainda, outros 12 mil quilôme- tros de rodovias que já passaram por pro- cessos de concessão, o que significa que o setor privado se torna responsável pelos fi- nanciamentos de acordo com os contratos firmados com a União. Nesses casos, a situa- ção está um pouco melhor do que a das es- tradas não concedidas. É bom notar, contudo, que o ritmo de li- beração de recursos é diferente. No caso das concessões, o maior volume de verbas é apli- cado nos cinco primeiros anos a partir da as- sinatura do contrato (normalmente as con- cessões são feitas em contratos com 30 anos de duração). Já nas estradas públicas fede- rais, esse desembolso é mais perene, ao lon- go de um tempo maior. “O Brasil enfrenta dificuldades orçamen- tárias e econômicas que não permitem um investimento maior em infraestrutura de transportes. No mundo ideal, precisaría- mos de uma média de investimento de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) por um pe- ríodo de 20 anos. A média dos últimos anos, até 2020, foi de 0,6%. Em 2021, foi de 0,4%”, afirma o especialista em infraestrutura da CNI, Matheus de Castro. Mesmo se forem considerados os inves- timentos públicos e privados somados, o ce- nário atual ainda é desolador. O auge aconte- ceu em 2010, quando o crescimento do PIB ficou em cerca de 7%. Em números corrigi- dos com valores de referência do ano pas- sado, a soma total de investimentos em ro- dovias foi de R$ 43,2 bilhões. Em 2021, esse valor despencou para menos da metade: R$ 16,6 bilhões, o menor desde 2005. 26 Revista Indústria Brasileira ▶ fevereiro 2022 ▼ Competitividade

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