Revista da Confederação Nacional da Indústria

23 Revista Indústria Brasileira demonstra que é incontornável a constitui- ção de um sistema financeiro formado pela interação virtuosa entre grandes bancos co- merciais públicos e privados. Entre as demandas do setor industrial para a retomada econômica está o prolonga- mento dos programas emergenciais de fi- nanciamento e da política de expansão de crédito. Qual é a sua opinião sobre essa su- gestão? A implosão da economia brasileira em 2014 e 2015 arrastou nossa indústria para uma monumental queda até hoje não recu- perada. O pouco que crescemos foi basea- do em serviços de baixa qualidade e na ge- ração de empregos com salários menores e mais precários. O auxílio emergencial, so- mado a uma taxa de câmbio mais desvalo- rizada e juros Selic no nível mínimo, trou- xe novas perspectivas. Tudo isso deveria ser mantido em 2021, claro que com níveis me- nores do auxílio emergencial. O senhor costuma dizer que “a indústria é a escola produtiva da economia”. O que isso significa exatamente? O conhecimen- to formal codificado, com alfabetização, conhecimento matemático e científico, é importante para adquirir habilidades ne- cessárias à prática profissional. Mas é na prática em si que o conhecimento do tipo não codificado, que se manifesta no know- -how embutido em rotinas inconscientes e muitas vezes complexas, é compreendido e internalizado. Isso ocorre, em geral, no se- tor manufatureiro e de serviços complexos atrelados. A indústria converte o capital hu- mano aprendido nas escolas em produtos e serviços de alto valor agregado. E como o setor industrial contribui para a formação desse conhecimento? Embora muitas empresas de países em desenvol- vimento possam adquirir máquinas para atividades básicas de produção e contem com razoável disponibilidade de trabalha- dores qualificados, falta-lhes a capacidade de produzir novas tecnologias e novas má- quinas. Tecnologias demandam um com- plexo processo de aprendizagem produ- tiva. Esse tipo de dinâmica de inovação e aprendizagem se encontra, na maioria das vezes, no setor industrial. Países emergen- tes apenas usam as máquinas; países ricos produzem as máquinas no coração de seus sistemas industriais. Um dos problemas do país é a baixa es- colaridade da população. Em que medida reverter esse cenário vai contribuir para o crescimento da produtividade indus- trial? É ilusório acreditar que a mera esco- larização da população será capaz de ele- var a produtividade aos níveis requeridos pela competitividade global. A transfor- mação estrutural em tempos de acelera- da evolução tecnológica requer uma estra- tégia de aprendizagem tecnológica eficaz. Para tanto, é preciso identificar os hiatos de conhecimento nas indústrias e as polí- ticas que podem ser implementadas para lidar com essas deficiências. Qual é a relevância da indústria para o desenvolvimento econômico de uma nação? Desenvolvimento econômico é o acúmulo de capital humano e de conhe- cimento de uma sociedade que se traduz na capacidade de produzir bens e serviços complexos. E o setor industrial é o único capaz de converter o acúmulo de conheci- mento em produtos e serviços que geram a riqueza das nações. Quando um país enri- quece, a indústria perde participação rela- tiva no PIB, mas continua enorme em ter- mos absolutos. Países ricos têm a maior produção industrial do mundo, tanto em termos absolutos quanto per capita . Não existe desenvolvimento econômico sem um setor industrial pujante. ■

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